Todo tecido submetido a uma cirurgia sofre algum tipo de lesão. Esta lesão precisa ser restaurada. Este processo de restauração recebe o nome de reparação tecidual e ocorre imediatamente após a agressão deste tecido. Neste processo encontram-se alterações como edema (inchaço), equimoses (manchas roxas) e formação de tecido cicatricial (fibrose).
Vamos entender o processo de cicatrização de um tecido submetido a uma agressão.
FISIOLOGIA DA CICATRIZAÇÃO
O processo de cicatrização pode ser dividido em três fases:
- Fase Hemorrágica- 20 à 30 minutos. Curta duração, contida por uma pressão oposta dos tecidos: Inicialmente ocorre uma vasoconstrição que reduz o fluxo sanguíneo no vaso lesado, minimizando a perda de sangue no local, até que a ação conjunta das plaquetas e dos fatores da coagulação promova o tamponamento. Este tamponamento perdura até que o tecido vascular lesado se regenere, ação dos fibroblastos. Em seguida ocorre a dissolução do tampão hemostático. Grosseiramente, os eventos da hemostasia podem ser esquematizados da seguinte forma:
Parede vascular lesada → fator tecidual → ativação das plaquetas → vasoconstrição → diminuição do volume sanguíneo → aumento da concentração do fator tecidual → ativação dos fatores plasmáticos → formação da fibrina que se junta ao trombo plaquetário → tampão hemostático → regeneração vascular → fibrinólise.
- Fase Inflamatória- 24 à 36 horas: A inflamação gera nutrientes para o local, retirando os dendritos celulares e as bactérias, melhorando a reparação da ferida. Esta fase caracteriza-se sintomaticamente por: dor, edema, rubor, calor e perda de Função.
- Fase Regenerativa – É subdividida em:
a) Fase de Proliferação de 2 a 4 dias ⇒Fibroplasia:
Nesta fase a ação de proliferação e de regeneração leva ao desenvolvimento da cicatriz.
Os sintomas relacionados com a resposta inflamatória diminuem.
b) Fase de Produção de 4 dias à 3 semanas; Nesta fase continua a formação de novos vasos sangüíneos. Esses vasos aportam substâncias necessárias para a produção de fibras de colágeno e outras.
Neste momento tem início a produção das fibras de colágeno.
c) Fase de Remodelamento de 3 semanas até dois anos: Continua a regeneração do tecido para conseguir uma estrutura resistente. As fibras formadas na fase de proliferação não estão orientadas na direção da carga funcional. No entanto, a sobrecarga pode levar a uma produção excessiva de material de colágeno, o qual aumenta a possibilidade da formação de quelóide.
Nesta fase as fibras de colágeno não devem sofrer traumatismos, já que qualquer dano pode voltar a causar uma inflamação.
Isto tudo que expliquei fazem parte do processo de cicatrização e são tratadas uma vez que trazem disfunções para os tecidos em questão.
A nível de curiosidade vou te mostrar os tipos de cicatrização que existem em um corte cirúrgico.
Tipos de cicatrização
Na classificação é levado em conta o agente causador da lesão, a quantidade de tecido perdido e o conteúdo microbiano.
- Cicatrização por primeira intenção: Constitui a melhor forma para o fechamento, estando associada à lesão por instrumento cortante, ferida limpa com perda mínima de tecido e reduzido potencial para infecção, sendo permitida a junção dos bordos através de suturas. Ocorre no tempo fisiológico, reduz incidência de complicações e deixa cicatriz mínima.
- Cicatrização por segunda intenção: está associada a ferimentos infectados, com grandes perdas teciduais não sendo possível a junção dos bordos e com isso implicando em retardo no reparo tecidual e uma cicatriz significativa, ocorrendo maior incidência de defeitos cicatriciais (quelóide, cicatriz hipertrófica).
- Cicatrização por terceira intenção: está associada a lesões que inicialmente foram submetidas à cicatrização por primeira intenção e que por fatores adversos tornou-se necessário deixar a incisão aberta para drenagem, sendo posteriormente ressuturada.
⇒ Saiba que 7 a 10 dias após a cirurgia a cicatriz tem 10% de resistência tensional normal da pele. Em 30 dias a resistência tensional fica em torno de 50% e em 90 dias atinge aproximadamente 80% de resistência da pele normal aumentando a força elástica gradativamente.
O tratamento de pós operatório atuará prevenindo e tratando tais alterações, possibilitando uma recuperação mais rápida.
O tratamento desenvolve flexibilidade e funcionalidade aos tecidos.
A maioria das pessoas comete o erro de pensar que o tratamento de pós-operatório de uma cirurgia plástica é baseado apenas na técnica de Drenagem Linfática Manual. O planejamento da conduta no pós-operatório é amplamente variável de acordo com o tipo de cirurgia realizada pelo paciente, da fase de pós-operatório em que encontra-se e dos sintomas apresentados clinicamente. Em alguns casos a Drenagem Linfática não é indicada, devido, por exemplo, ao aumento de tensão entre as bordas cicatriciais que os movimentos (mesmo leves e sutis) ou até a gravidade podem provocar. Isso pode ocorrer em algumas regiões do corpo que apresentam maior tensão mecânica e tendência à alterações cicatriciais, como por exemplo, no pós-operatório de prótese de mamas.
Outro erro é pensar que a Drenagem Linfática trata fibroses e aderências. E não trata. É uma técnica que diminui edema ( inchaço) e promove alívio da dor nos primeiros dias após a cirurgia.
Sendo assim, o tratamento de pós operatório é composto por várias técnicas. Alguns dos procedimentos que podem ser utilizados no pós-operatório com seus objetivos específicos é a técnica muito realizada chamada Liberação Tecidual Funcional (LTF).
É uma técnica manual que desenvolve flexibilidade e funcionalidade aos tecidos aderidos e com fibroses pela própria cicatrização. É um tratamento simples, indolor, não invasivo e de rápida resposta. É um conceito que trata e reabilita pós cirúrgico recente e tardio.
Muitos pacientes me procuram anos após ter realizado a cirurgia para tratar fibroses e aderências antigas que não resolveu com outros tratamentos. Em apenas algumas sessões o tecido manipulado se alinha ganhando uma aparência mais homogênia.
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Dica: É de extrema importância realizar uma avaliação antes de iniciar o tratamento, para que o profissional possa montar um protocolo com as técnicas a serem usadas de acordo com a fase de cicatrização.
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